No bairro Barra, em Tramandaí, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, os moradores enfrentam uma situação incomum e crescente: as dunas — que em outras circunstâncias funcionam como proteção natural — estão avançando sobre casas, ruas e acessos da comunidade. Em alguns pontos, as dunas atingem até oito metros de altura, e a areia cobre portas, janelas e vias de circulação.
Segundo relatos locais, a movimentação da areia ocorre com mais intensidade quando ventos do nordeste sopram com força, criando uma formação de dunas de areia em direção à área urbana. A vegetação da restinga, que tradicionalmente ajudaria a segurar essa areia, mostra-se fragilizada ou ausente em trechos do litoral. A falta de barreiras naturais e a proximidade das construções tornam o cenário mais vulnerável.
Também são apontados fatores humanos que agravam o fenômeno: a ocupação direta ou próxima das dunas para uso residencial, a retirada de vegetação de estabilização, o nível do mar em ligeira elevação e a alteração das correntes de vento costeiras.
Em conjunto, esses elementos fazem com que o sistema dunar se “rebalanceie” e direcione a areia para o interior, invadindo ruas e casas.
Uma das moradoras comenta que sua rotina inclui “acordar com a vassoura na mão”, varrendo a areia que entra pela porta logo cedo.
Muitas famílias relatam que, depois das obras de contenção anteriores — como barreiras de toras ou plantio de vegetação pioneira — o clima regulatório e ambiental tornou-se mais complexo, retardando novas intervenções.
As autoridades municipais e ambientais afirmam que estão em processo de liberação de projetos para instalar nova contenção e restaurar vegetação. No entanto, o trâmite legal de zonas de preservação permanente (APP) e licenciamento ambiental impede soluções imediatas.
Enquanto isso, a comunidade convive com o impacto diário, aceita com resignação e busca apoio coletivo.
Esse cenário chama atenção para uma lição mais ampla: as regiões costeiras precisam de planejamento integrado que concilie habitação, preservação ambiental e adaptação às mudanças naturais.
No caso de Tramandaí, a barreira entre o ambiente natural e as moradias está sendo tensionada, e cabe à comunidade, ao poder público e aos especialistas desenhar uma resposta conjunta.
Com paciência, diálogo e ação coordenada, é possível vislumbrar um caminho de convivência mais tranquila entre as dunas e as pessoas.
Que esse episódio sirva de alerta para outras localidades costeiras e inspire uma reflexão sobre como viver em harmonia com as paisagens que amamos.
Fonte : Serra e Litoral